24 de junho de 2025

Dois tigres de papel e um leão cansado

 

É muito provável que a aceitação por parte do Irã de um cessar-fogo imposto pelos EUA – que soa muito mais como uma capitulação diante de seu agressor – se deva ao fato de que não recebeu de seus aliados China e Rússia o apoio que esperava.

Uma outra explicação plausível pode ser atribuída à falta de perspectiva política de sua liderança, que parece mais interessada em um acordo com o Ocidente.

É muito provável, no entanto, que este cessar-fogo fabricado a golpes de Tomahawk venha a ter consequências negativas para o Irã que, segundo analistas, estava em vias de alcançar um vitória militar parcial, com o iminente colapso do Domo de Ferro israelense.

Em qualquer circunstância, é certo que este acordo altamente volátil, como tem sido chamado, desencadeie uma ferrenha luta no interior dos dois países envolvidos no conflito.

Se, de um lado, o parlamento iraniano – que acaba de autorizar o fechamento do Estreito de Ormuz – certamente se sentirá frustrado no momento em que propõe a ampliação da guerra, de outro, a população de Israel irá responsabilizar o seu governo pela perda da aura de invencibilidade, alimentada durante anos pelo massacre contínuo da população indefesa de Gaza, exigir a restauração dos danos infligidos pela guerra, além de cobrar o retorno dos reféns.

De outra parte, os Estados Unidos, com sua tradicional mentalidade guerreira, parecem ter saído como o único vitorioso do conflito após romperem com todas as normas internacionais ao bombardear uma nação que não lhes oferecia nenhum risco, sob um pretexto que jamais foi devidamente provado.

Israel e Irã entram, portanto, nesta história como verdadeiros tigres de papel uma vez que que jamais cumpriram as promessas que fizeram e também por que não contaram com a aparição de um leão que, embora cansado e já um pouco envelhecido, urrou bastante e demonstrou alguma agressividade, o que terminou por acalmar os ânimos e encerrou ao menos provisoriamente as hostilidades.

Esse breve momento do nosso século XXI poderia ser considerado cômico, não fosse na verdade trágico em razão da ausência de lideranças que compromete a governabilidade dos países e onde pontificam figuras grotescas como o atual presidente dos Estados Unidos, que mais parece um mestre de cerimônias de circo, como lembrou um jornalista; um outro presidente que recebe um tapa de sua mulher que muitos dizem ser um homem; um maluco que afirma conversar com seu cachorro que já morreu, e onde não faltam genocidas matadores de crianças e mulheres como o atual primeiro-ministro de Israel, sem contar o nosso Lulinha da Silva e sua inefável esposa, que mais parece a Maria Antonieta da França antes da Revolução de 1789, e que pode terminar como Luís XVI.

Por sua vez, a capitulação do Irã mais parece a capitulação do Hezbollah após o mais recente e prolongado conflito com Israel, em que apesar de ter tido toda a sua liderança decapitada não sofria uma derrota militar mas, por um erro de estratégia, aceitou um cessar-fogo com Israel no Líbano.

O que sucedeu então foi que Israel passou a bombardear o país de forma constante destruindo grande parte de sua infraestrutura, tal como acaba de fazer agora no Irã e reduziu a resistência em favor da Palestina a zero. Após a assinatura de um cessar-fogo no Líbano, conta-se que os sionistas de Telavive já romperam essa trégua mais de três mil vezes.

Será que a frágil liderança iraniana não se dá conta do risco que pode estar assumindo?

Muitos analistas tanto no Irã quanto no exterior já estão se perguntando qual é o sentido de se comprometer com um notório aliado de Israel e que já declarou por diversas vezes que deseja derrubar o governo do país persa.

Chama também atenção a falta de sensibilidade política e o primarismo da liderança de Masoud Pezeshkian que deu as costas à sua população no momento em que recebia o seu maior apoio por uma ação realmente corajosa.

Se, por um acaso, esta tamanha irresponsabilidade política levar a uma derrocada do Irã, a omissão de Putin, um notório filo-sionista como já foi observado, poderá ter consequências desastrosas para a Rússia.

Será que, então, Vladimir Vladimirovich será recebido de braços abertos por Donald Trump na Casa Branca como um verdadeiro aliado?

Muitos analistas na Federação Russa já estão lembrando que, com a queda do Irã, o deep state americano poderá considerar que o próximo passo será a tomada da terra lendária de Tolstoi e Dostoievski. Outros conjecturam se não está em curso uma nova operação de falsa bandeira que certamente levará ao rompimento do acordo e à eliminação do líder religioso Ali Khamenei, já prenunciada pelo xerife de Washington.

                                                                    

Sérvulo Siqueira