21 de julho de
2012
O
jornalista Thierry Meyssan, do
Réseau Voltaire, anuncia que a batalha de Damasco deve se iniciar
nas próximas horas. De acordo com o analista, ela foi precedida pela
entrada na Síria de 40 mil a 60 mil mercenários, que começam a ocupar
pontos estratégicos na capital.
Esses grupos muito bem armados oriundos do Iraque, da Líbia e do Líbano
são compostos por militantes da Al Qaeda e soldados dos exércitos
regulares da Arábia Saudita e do Qatar que contam com a assessoria
técnica e equipamento de guerra dos Estados Unidos e da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A Turquia também desempenha um
importante papel como coordenadora da operação e base de operações.
Segundo Meyssan, desde alguns dias esses grupos já desencadearam ataques
contra postos do governo semeando o pânico e o terror mas, após alguns
combates, foram rechaçados. Ao mesmo tempo, foi deflagrada uma operação
de guerra psicológica por intermédio dos meios de comunicação,
especialmente dos canais de televisão.
O
governo da Síria, por intermédio do ministério da Informação, já alertou
a população sobre o surgimento de um canal falso de informações com os
caracteres de identificação da televisão estatal, que transmitirá
notícias contra as autoridades do país. É possível também que – a
qualquer momento – o sinal da televisão nacional da Síria seja cortado e
ocupado por um meio impostor.
As
advertências do governo do país foram feitas depois que grupos
terroristas sequestraram na última quinta-feira o apresentador da
televisão síria, Muhammad Said, na localidade de Jdeidet Artouz, a oeste
da capital. Antes desse fato, meios de comunicação do Ocidente já haviam
divulgado falsos rumores sobre o governo, como a possibilidade de que o
presidente estivesse ferido ou morto e a primeira-dama refugiada na
embaixada da Rússia. A aparição do presidente Bashar Al-Assad durante a
posse de seu novo ministro da Defesa e enérgicos desmentidos por parte
da Rússia desmoralizaram mais esta tentativa de desestabilização do
governo.
Por
outro lado, o canal de televisão sírio Al-Dunya, que desempenha um
importante papel em revelar as conspirações dos inimigos do país, também
foi tirado do ar pelos satélites árabes Arabsat e Nilesatl. Os meios de
comunicação Al-Arabya e Al-Jazeera, da Arábia Saudita e do Qatar,
respectivamente, também propagam notícias falsas contra o governo sírio,
apontando-o como responsável por massacres de civis em todo o país, que
na verdade vêm sendo sistematicamente perpetrados pela oposição síria
financiada pelos Estados Unidos, Inglaterra e França.
Por
várias vezes, o governo de Damasco vem reiterando esse processo de
intoxicação da opinião pública pelos veículos de comunicação “se-dentos
de sangue” que visam criar um ambiente favorável à intervenção
estrangeira, segundo afirma. O desrespeito e a falta de ética dos
inimigos da Síria chegou a tal ponto que, em junho, a Liga Árabe exigiu
que todas as cadeias de informação, tanto estatais quanto privadas,
fossem retiradas dos satélites árabes privados Arabsat e Nilesat,
ignorando o fato de que a Síria é proprietária de uma parte das ações da
Arabsat. Há alguns dias, a agência estatal SANA denunciou que, nos
arredores da capital, estão sendo preparados cenários que simulam
edifícios governamentais sírios onde seriam gravadas cenas de guerra em
que os terroristas armados pela OTAN e os Estados Unidos travariam
combates com o exército do país, tal como aconteceu na Líbia no ano
passado, quando uma falsa Praça Verde de Trípoli foi criada em estúdios
no Qatar, enquanto a Organização Atlântica bombardeava a infraestrutura
do país para possibilitar a entrada dos rebeldes armados na capital.
Esse
processo de guerra psicológica apoiado nos meios de comunicação vem
sendo empregado de forma contínua em muitos países cujos governos os
Estados Unidos querem derrubar e – embora tenha sido bem-sucedido em
alguns casos – também já sofreu vários revezes como no golpe de Estado
de 2002 na Venezuela – rapidamente revertido pela pressão popular e a
ação do exército – e nas últimas eleições presidenciais do Irã, quando
uma série de ações concertadas por meio das chamadas redes sociais,
Twitter e Facebook, entre outras, não produziu o resultado desejado.
Essa
estratégia também tem sido abordada de forma ficcional pelo cinema como
ocorreu no filme Wag The Dog
de Barry Levinson, realizado em 1999, estrelado por Dustin Hoffman,
Robert De Niro, Anne Heche e que contou inclusive com a participação do
compositor americano Willie Nelson.
Na
história, um presidente norte-americano em visível declínio popular
fabrica uma guerra na Albânia para levantar a sua popularidade. Um
produtor de show-business, coincidentemente um ex-realizador dos espetáculos do
Oscar, também no ostracismo, é contratado para fabricar um cenário
convincente que leve a uma intervenção ianque no pequeno país da Europa
Oriental visando salvaguardar os direitos humanos na conturbada região
e, naturalmente, ressuscitar a popularidade perdida do presidente.
O
título de lançamento do filme no Brasil,
Mera Coincidência, que servia
na época para lembrar a conduta do presidente americano de então, Bill
Clinton, durante o caso Monica Lewinsky, se aplica hoje à política de
Barack Hussein O’Bomb, também
em franco declínio na aceitação popular e sob ameaça de perder as
eleições presidenciais do próximo mês de novembro. Mais apropriada
talvez do que uma tradução literal do título
Wag The Dog, em português
aproximadamente Abana o Cachorro, teria sido o uso do nosso linguajar
coloquial: Solta os Cachorros!
Parece claro que, quando confrontados com os problemas internos cada vez
mais crescentes, aos presidentes norte-americanos só tem restado uma
alternativa: soltar os cachorros – ou seja bombardear, desestabilizar,
promover atos terroristas – nos territórios de países pequenos, em geral
muito pobres como o Afeganistão e a Somália, que não se curvam à sua
vontade.
Sérvulo Siqueira |