20 de novembro
de 2010
Bases militares, McDonald’s e Lady Gaga
Carl
von Clausewitz escreveu que a guerra é o último recurso da diplomacia.
Nos dias de hoje, poderia dizer que a estratégia militar é o último
recurso da guerra econômica. Coincidentemente, os recentes acordos de
expansão da ação militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), que acabam de ser celebrados em Lisboa, revelam uma clara
estratégia de dominação projetada pelos países que se encontram
exatamente no epicentro da grande crise econômica mundial.
Não
resta a menor dúvida de que os patrocinadores dos sinistros acordos que
acabam de ser assinados e que concedem à OTAN – concebida no passado
como “uma aliança militar de estados democráticos na Europa e na
América” – o poder de intervir em qualquer parte do mundo, sempre que
considerar que seus interesses estão ameaçados, são aqueles que estão
claramente perdendo a guerra econômica: Estados Unidos, União Européia,
além do Japão, que espera contar com o apoio americano para seus
conflitos territoriais com a China e a Rússia.
A
OTAN – este fóssil da Guerra Fria, criada para se contrapor ao Pacto de
Varsóvia, há muito extinto – não apenas continua a existir como se
transformou no novo braço da guerra colonial dos Estados Unidos e de
seus aliados europeus contra as nações do Oriente Médio e da Ásia
Central. Agora, ameaça expandir o seu imenso poder destrutivo a todo o
planeta.
Se
isto acontecer, a organização se outorgará, de forma unilateral, o poder
de debelar movimentos de insurreição, reprimir rebeliões, conter
manifestações populares, ocupar territórios potencialmente estratégicos,
derrubar governos ou recolocar no poder ditadores recusados pela
população, sempre que seus dirigentes considerarem que os objetivos dos
países-membros estiverem correndo algum tipo de risco.
Comentando a ampliação da esfera de ação desta nova força policial que
pretende gerir manu militari a
cambaleante nova ordem mundial, o respeitado analista Rick Rozoff
observa que “dois milênios atrás, a Pax Romana de Augusto trouxe
estradas e portos, aquedutos e irrigação, anfiteatros e bibliotecas, e
escritores gregos de Aristóteles a Ésquilo para os territórios
ocupados”. Hoje, conclui Rozoff, “a máquina de guerra americana queima
seus vassalos e tributários com bases militares, baterias com mísseis de
interceptação, McDonald’s e Lady Gaga”.
Sérvulo Siqueira |