17 de junho de 2011
 


A velha guerra de baixa intensidade

 

A prometida prosperidade do capitalismo neoliberal não se confirmou. Vinte anos depois do colapso do socialismo soviético, as antigas potências coloniais da Europa, os Estados Unidos e o Japão mergulham em uma abissal crise econômica.

À medida que a crise se acentua, esses países recorrem a métodos cada vez mais violentos e predatórios contra suas próprias populações e as nações pobres e emergentes do Terceiro Mundo. As nefastas terapêuticas de corte de gastos e privatizações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial – cuja eficácia nunca se comprovou na África e na América Latina – começam a ser aplicadas sob crescentes protestos nos países periféricos da União Europeia, enquanto os aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) despejam contínuas bombas na população civil da Líbia ao mesmo tempo em que proclamam estar realizando “missões humanitárias”.

Em um planeta sob os mais diferentes tipos de turbulência – terremotos, maremotos, explosões vulcânicas, guerras civis, bombardeios com combustível atômico empobrecido, rebeliões populares e toda a sorte de devastação ecológica – a imposição de um poder imperial pelos Estados Unidos e seus aliados compromete ainda mais as possibilidades de uma paz duradoura e as esperanças de implantação de uma ampla justiça social no planeta.

Por toda a parte, explodem manifestações de desconforto e descontentamento contra a injusta distribuição de renda e poder proporcionada pelo atual modelo econômico em seu curto período de vigência, que acentuou ainda mais a distância entre uma pequena parcela de ricos e super-ricos e uma crescente camada de pobres e miseráveis e isto até mesmo na mais poderosa nação do mundo, a grande vitoriosa do que o zapatista Subcomandante Marcos chamou de “a terceira guerra mundial”. Exemplo disso são as inúmeras manifestações que irromperam nos Estados Unidos em seu mais recente Memorial Day, no final do mês de maio, quando grandes cidades do país foram tomadas por uma população que bradava contra as más condições de vida.

No front europeu, a situação não parece ser diferente como evidenciam os candentes protestos que, entre outros, espanhóis, gregos, irlandeses, portugueses, italianos, alemães e ingleses vêm organizando contra uma política econômica que parece ter como objetivo enriquecer os banqueiros e empobrecer a população, cortando as suas conquistas sociais e restringindo os direitos civis sob o pretexto de uma fabricada guerra contra o terrorismo. Um orwelliano estado policial começa progressivamente a se formar, espionando o cidadão e compilando um número cada vez maior de informações sobre a sua vida a partir do rastreamento de e-mails, sites, GPS, fotografias de satélite, etc.

Reagindo contra esse controle, os cidadãos mais conscientes em várias partes do mundo começam pouco a pouco a perceber o caráter demoníaco do sistema de dominação, que parece ter como epicentro um pequeno grupo de oligarcas composto por banqueiros, especuladores financeiros, magnatas do petróleo, das comunicações e das indústrias de armas cujos interesses estão habilmente espalhados pelas mais diversas atividades econômicas em todo o planeta.

Este sistema elitista de poder não poderia efetivamente se consolidar sem a complacência dos meios de comunicação e informação – a chamada mídia – que como uma “prostituta muito pouco respeitosa” vende sem nenhum escrúpulo seus serviços a grupos e interesses econômicos muito poderosos. Foi somente o silêncio dos veículos de comunicação que tornou possível que o chamado Grupo Bildeberg, uma coorte composta por um sinistro aglomerado de poderosos vampiros e sanguessugas da sociedade, se reunisse com alarde por mais de 40 anos nos mais diversos locais do planeta sem que os grandes jornais do mundo postassem sequer uma linha sobre o assunto.

É este mesmo silêncio e complacência que impede que os meios de informação corporativos noticiem o clamor que varre hoje o nosso planeta, dos povos árabes cansados de ditaduras aos cidadãos europeus que começam a experimentar o pesadelo de que as suas conquistas de muitos séculos lhes sejam retiradas num piscar de olhos, além dos africanos e dos povos da América Latina, que vivem há séculos sob uma guerra colonial de baixa intensidade.

 

Sérvulo Siqueira