11 de outubro de 2015

 

Bush and Obama Age of Terror

Bush and Obama Age of Terror, episódio da série Untold History of the US de Oliver Stone, apresentado pelo canal Showtime e reproduzido aqui, aparece de imediato como um golpe político de mestre de seu produtor e diretor.

Enquanto, de um lado, procura conquistar o apoio da esquerda americana e dos pacifistas que rejeitam o estado de terror interno e as prolongadas detenções sem uma justa causa, assim como as contínuas invasões de outras nações, acena com simpatia aos empresários dos Estados Unidos cada vez mais afetados pela aplicação indiscriminada a um número crescente de países e assume muitas de suas críticas ao governo de Barack Obama.

Por outro lado, desenterra alguns velhos chavões da propaganda de guerra ianque, ao sugerir a possibilidade de um novo “perigo amarelo” chinês e se referir a um “populismo radical” quando trata dos governos de esquerda da América Latina.

Ao mesmo tempo, não se preocupa em procurar desmentir as falsas bandeiras e as cortinas de fumaça da política de seu país, ao narrar o propalado assassinato de Bin Laden e a sua participação no 11 de Setembro de 2001, episódios ainda não devidamente esclarecidos. Omite também ‒ como aliás também o faz Michael Moore em todos os seus documentários ‒ o papel genocida de Israel na questão palestina, caracterizando assim o temor de que o lobby judaico inspira em todo o setor contestador da política americana.

Deixa a impressão de que ‒ em tempos de eleição ‒ quer agradar a gregos e troianos, assumindo uma causa defendida pela população antibelicista dos Estados Unidos enquanto ‒ ao brandir os tradicionais jargões da direita americana ‒ simultaneamente faz coro com as críticas, tão ao gosto dos republicanos, de racistas como Donald Trump.

No contexto da carreira de Oliver Stone, esta posição não chega a surpreender porque o cineasta sempre se caracterizou por sua posição dúbia, realizando filmes à esquerda ‒ como sua entrevista com Fidel Castro e os documentários sobre a Venezuela e Hugo Chávez ‒enquanto ao mesmo tempo dirigia grandes produções comerciais para Hollywood.

Pode, no entanto, ser revelador do desespero e da falta de perspectiva da esquerda tradicional que parece não ter mais projetos alternativos ao rolo compressor do neoliberalismo em crise.

Numa outra vertente, a posição de Oliver Stone também deve ser vista como a fabricação de um dissenso, uma estratégia concebida pelo establishment econômico dominante de criação de uma oposição aceitável e bem comportada, da qual já tivemos um exemplo bem elucidativo no caso do soi-disant partido de esquerda grego Syriza e seu líder, o entreguista Alex Tsipras.

A fabricação do dissenso, um projeto urdido por think-tanks dos Estados Unidos para a cooptação de uma esquerda útil e assimilável pelo sistema dominante vem sendo comentada com frequência pelo arguto analista Michel Chossudovsky, em análises publicadas aqui. Em 2013, tivemos no Brasil um exemplo semelhante com o surgimento dos black blocks, que mais tarde caíram no esquecimento e foram desmoralizados.

O projeto de Oliver Stone é certamente mais bem elaborado mas ‒ ainda assim ‒ não chega a nos convencer de sua objetividade.

 

Sérvulo Siqueira