Redescobrindo Tesla

 

Bill Lawren

 

Tradução de Sérvulo Siqueira

 

Subestimado por mais de meio século, o gênio místico da eletricidade encontrou finalmente uma continuidade.

Em um, sob outros aspectos, agradável dia de 1898, o solo na Zona Baixa do Lado Leste de Nova York começou subitamente a tremer. Enquanto os prédios sacudiam, os pacatos cidadãos de Chinatown, Little Italy e Soho afluíam às ruas, gritando em confusão, certos de que tanto a ira da natureza quanto a fúria de Deus os estavam visitando.

Mas os policiais que estavam na rua Mulberry se mostraram mais bem informados. Logo que certificaram-se de que o "terremoto" estava misteriosamente confinado à sua própria e pequena vizinhança, dois deles rumaram para a Rua Houston Leste no. 46. Lá encontraram um homem elegante de bigode, postado ao lado das ruínas de uma pequena máquina que ele chamava de oscilador.

O homem a havia pendurado na pilastra com suporte de ferro que corria ao longo do centro do prédio. Aparentemente, as vibrações do oscilador haviam descido pela pilastra e se irradiado pela vizinhança estabelecendo o "tremor". Uma vez que o prédio começou a balançar, o homem rapidamente esmagou o oscilador com uma marreta para interromper o choque. Ele se inclinou polidamente em direção aos policiais: "Cavalheiros", anunciou, "eu sinto muito. Vocês chegaram apenas um pouquinho tarde para testemunhar a minha experiência".

O nome do experimentador era Nikola Tesla, e iria mais tarde se gabar de que seu pequeno oscilador poderia "rachar a terra como a uma maçã". Posteriormente, iria reivindicar que poderia transmitir eletricidade em torno da terra sem a utilização de fios, controlar o tempo e receber mensagens de Marte. Naquele tempo, entretanto, era melhor conhecido por suas excentricidades pessoais e seu comportamento exuberante. Insistia em ter exatamente 18 guardanapos diante de si a cada vez em que jantava, não importando o número dos outros convidados, e não permaneceria em um mesmo recinto com uma mulher que estivesse usando brincos de pérolas. Os seus surpreendentes espetáculos de laboratório, nos quais iria permitir que dois milhões de volts de eletricidade o envolvessem num halo luminescente, eram considerados uma diversão melhor do que uma noite no teatro.

Mas houve bem mais para Tesla do que fácil palavrório e mágica de parlatório. Por volta de 1898, já havia produzido duas invenções que mudariam o mundo: a corrente alternada, que tornou a distribuição da eletricidade a mais ampla possível, e a bobina de alta-freqüência, que ajudou a assentar as bases para qualquer sistema de emissão, do rádio ao radar. Seu pensamento radical e especulativo, antecipou e, de uma certa maneira, forneceu a base conceitual para uma notável variedade de tecnologias modernas.

Na metade deste século, entretanto, Tesla estava completamente esquecido. Muitas de suas invenções tinham sido atribuídas a outros e suas idéias eram freqüentemente descartadas como as divagações de um homem mentalmente perturbado. Após décadas sendo considerado na franja lunática da ciência, Tesla e suas idéias mais futurísticas estão desfrutando um reavivamento. Sua obra tem interessado a uma nova geração de inventores, pesquisadores e restauradores de vários tipos. Como o próprio Tesla, desafiam uma classificação fácil: parecem percorrer uma escala que vai dos cabeças-duras e práticos engenheiros aos fanáticos de olho esbugalhado. A extensão de suas idéias é igualmente ampla. Eles estão trabalhando em tudo, desde bombas mais eficientes e turbinas a jato mais potentes, até o segredo da viagem no tempo.

O homem responsável por isso nasceu em 1856, na minúscula aldeia de Smiljan, na Croácia, de família sérvia. Desde a infância demonstrou uma inclinação por idéias e invenções de impacto. Como estudante, sonhou em criar um correio intercontinental através de um imenso túnel sob o Atlântico. Com a idade de 28 anos, já havia desenhado um protótipo para o motor que mudaria o mundo.

No começo do século XIX, a eletricidade era a corrente contínua, ou DC, e se caracterizaria por ser um fenômeno puramente local. Sem geradores de alto custo que pudessem ampliar a sua energia por umas poucas milhas. Tesla desenhou um gerador que produzia corrente em pulsos alternados. Esses pulsos poderiam sustentar transmissões em alta voltagem através de longas distâncias. Com esse sistema AC, ou de corrente alternada, a eletricidade poderia ser mandada, de forma barata, à qualquer lugar onde fios pudessem ser levantados.

Com o desenho para o motor do seu sistema AC e a recomendação para Thomas Edison em seu bolso, Tesla deixou a Europa em 1884 em direção a Nova Iorque. Edison o contratou como assistente de laboratório e, então, começou uma curta e tempestuosa associação. Por natureza, os dois homens eram completamente inadequados um para o outro. Tesla era elegante, culturalmente refinado e um brilhante matemático. Resolvia questões mentalmente antes mesmo de apanhar um instrumento de cálculo. Edison era um inventor de oficina e fábrica, um homem para quem a tentativa e erro eram o único caminho para a inovação. Mais objetivo, Edison estava empenhado na comercialização da corrente contínua.

Três anos mais tarde, os dois gênios dividiram a companhia. Tesla recrutou então o apoio do industrial George Westinghouse para desenvolver o seu sistema AC. Edison contra atacou. Para afugentar as pessoas e impedí-las de usar a invenção de Tesla, montou uma campanha na qual eletrocutou publicamente cachorros e galgos com o emprego da corrente AC. Contou à platéia horrorizada que os animais haviam sido "westinghoused". Isto não produziu um bom resultado. O sistema AC suplantou o sistema DC, e Tesla recebeu direitos autorais no valor de $216.000 - uma imensa quantia naquela época, mas que iria se consumir em poucos anos.

Antes que isso acontecesse, Tesla esboçou um esquema para uma outra invenção que mudaria o mundo. Em 1890, inventou um transformador de centro ôco (hollow-core), uma bobina elétrica que poderia transmitir sinais de rádio a freqüências extremamente altas.

Por volta de 1893, já havia esboçado o projeto que usaria essas "bobinas de Tesla". O resultado, Tesla suspeitou, seria a transmissão sem fios, de ondas eletromagnéticas de alta-freqüência: o rádio. Oito anos depois, Guglielmo Marconi mandou o seu famoso sinal em S em torno do Atlântico. Ao ouvir falar do acontecimento, Tesla teria comprovadamente desprezado o fato. "Deixem-no continuar. Ele está usando dezessete das minhas patentes".

Tornado super-confiante, talvez pela sua estatura como comprovado gênio, Tesla estendeu os seus olhos até grandes projetos. Estava fascinado com a possibilidade de transmitir energia elétrica sem fios e vislumbrava a maneira de fazê-lo: gigantes bobinas de Tesla que lançariam a eletricidade diretamente no céu e, então, em torno do mundo, viajando através da ionosfera da Terra.

No começo do século XX, construiu um conjunto de gigantescas bobinas com 52 pés de altura e torres de transmissão, próximo a Colorado Springs, e mais tarde em Long Island, em Nova Iorque. Embora fosse capaz de produzir raios de 135 pés de comprimento com as suas bobinas gigantes - e inclusive chegou a apagar a luz da cidade de Colorado Springs - ele nunca consiguiu transmitir energia elétrica. Esse dispendioso fracasso marcou o começo do declínio criativo de Tesla. Com o passar do tempo, suas idéias se tornaram mais e mais perversamente grandiosas: falava em transmitir energia de baixa freqüência através do centro da Terra. Afirmava que poderia controlar a temperatura. Mas, obviamente, nada jamais surgiu das suas conclamações. Frustrado por suas derrotas, finalmente abandonou suas atividades e, em janeiro de 1943, morreu num humilde hotel da cidade de Nova Iorque, cercado por pombos feridos que ele havia levado para serem tratados.

Muito tempo depois de ter saído de circulação, sua reputação passou a ser reavivada. Cientistas vencedores do Prêmio Nobel, como Robert Milikan e Arthur Compton, citaram sua obra como fonte de inspiração pessoal e, em 1974, o prestigioso Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) o conduziu ao seu Panteon da Fama dos inventores. Hoje, é consideravelmente mais fácil que no passado encontrar respeitáveis cientistas dispostos a confirmar as contribuições de Tesla.

Uma das visões de Tesla pode ser dramaticamente vingada logo, dentro de um amplo prédio perto da cidade de mineração de prata de Leadville, no Colorado. Lá, Robert Golka, um festejado e ambicioso inventor, engenheiro consultivo e cientista, está tentando fazer o que até mesmo alguns adeptos de Tesla admitem que é uma idéia de vanguarda: a transmissão sem fios de eletricidade através da atmosfera a qualquer ponto do globo, usando o ar como condutor.

A escola de Golka, transformada em laboratório, na cidade de Brockton, Massachussetz, onde ele executa uma parte do seu projeto, é um sonho para o inventor e o pesadelo de uma empregada doméstica. Fileiras de arquivos de metal e madeira de escritório estão entulhadas em cada espaço disponível, ainda não tomado por eletrolas estragadas operadas por moedas e pianos sem as partes internas. Dispersas sobre as amplas mesas de trabalho estão as bobinas de Tesla, de todos os tipos e descrições. O teto de estanho do recinto carrega marcas nítidas de queimadura, as cicatrizes dos seus persistentes experimentos com luz produzidos pelo homem.

Golka é um homem pequeno e maciçamente construído na metade da sua década dos 40, ligeiramente calvo, mas com um brilho infantil inconfundível nos olhos. Quando fala sobre o seu trabalho, é reservado. A tensão, e isto se torna aparente depois de alguns minutos, não é apenas uma questão de personalidade mas, provavelmente, a cautela de um homem acostumado a não ser entendido.

Quanto mais jovem, Golka se tornou útil às lojas locais de sinais de neon ao operá-los e consertá-los. "Eles me pagavam em neon", recorda. "Eu costumava levar os tubos para casa e colocá-los juntos como se fossem demostrações de luz em meu sótão". Com a idade de 13 anos, já estava consertando circuitos de relé nas máquinas de jogos das redondezas.

Uma devoção precoce para com as coisas que iluminam se desenvolveu finalmente num interesse adulto pelo raio esférico – um fenômeno no qual o raio se aglutina em uma estranha órbita luminescente com movimentos erráticos. Golka se tornou fascinado com a idéia de que a energia originária do raio esférico, uma vez utilizada, poderia ajudar a produzir reações de fusão controlada. Primeiro, ele pensou, seria necessário criar artificialmente o raio.

Enquanto fazia a sua pesquisa, Golka se deparou com a referência a Tesla e seus experimentos de Colorado Springs. Uma pesquisa de patentes revelou que ele havia conseguido produzir o raio esférico com a sua bobina de 52 pés. Sem perder tempo, Golka viajou para a Iugoslávia e se dirigiu ao Museu Tesla, onde persuadiu gradualmente funcionários suspeitosos que o deixaram vasculhar os quase ilegíveis manuscritos de Tesla. Por fim, os funcionários se convenceram de que Golka era um espião e lhe fecharam todas as portas, mas não antes dele conseguir obter 29 páginas de notas e desenhos da bobina de Colorado Springs.

Voltou para casa e construiu uma bobina de Tesla na escala de 10 pés em seu laboratório de Brockton - mas não obteve nenhum resultado. A única coisa a fazer, ele sabia, era recriar completamente a máquina original. Em 1970, viajou para os planaltos salgados de Utah procurando uma locação para erigir a sua bobina. O lugar tinha que ser isolado e possuir boa condutividade de solo. Finalmente, encontrou o local: um armazém abandonado na Base Aérea de Wendover, que alugou por um dólar ao ano.

Trabalhando com equipamento recuperado e um gerador doado de 150 kilowatts, Golka construiu uma bobina de Tesla de 52 pés. Em julho de 1974, a bobina estava produzindo 12 milhões de volts de eletricidade e induzindo centelhas de 40 pés de comprimento. Durante os nove anos seguintes, Golka diz que recriou reluzentes globos de raios esféricos pelo menos cinco vezes. "Mas isto foi um efeito transitório", admite, "e eu nunca pude controlá-lo". Em 1982, estava sem dinheiro. Ele fechou a sua operação em Wendover, desmontou a bobina gigante, e alojou as partes em um armazém em Montana.

Durante esse tempo, Golka se envolveu mais profundamente na aplicação para a qual Tesla havia destinado a bobina. Tesla sabia que a ionosfera, a camada mais alta da atmosfera da terra, é rica em partículas carregadas, um condutor natural de eletricidade. Teorizava que se pudesse emitir um raio luminoso de eletricidade até a ionosfera em pulsos de oito segundos (sendo esse o tempo necessário para um elétron circunavegar a Terra), poderia colocar em movimento uma contínua onda de elétrons de grande amplitude, que pudesse ser transmitida a qualquer parte do globo sem a utilização de fios e com a eficiência de 90%. (Em termos de comparação, o fio de cobre, o condutor padrão de energia industrial, tem uma taxa de eficiência de somente cerca de 70%).

Com uma nova inversão de dinheiro, Golka tirou a sua bobina de Tesla do estaleiro e a reconstruiu em Leadville, no Colorado. Ele espera transmitir energia através do ar. Golka reconhece que, mesmo que possa fazer a transmissão funcionar, ainda tem que imaginar como vai recebê-la. Uma opção: usar lasers de nitrogênio para abrir furos na atmosfera. Os buracos funcionariam como condutos através dos quais a eletricidade desceria para as estações receptoras na Terra. Se Golka for bem sucedido, uma luminescente coroa púrpura em torno da sua torre de transmissão do Colorado vai sinalizar o seu próprio triunfo e confirmará, conseqüentemente, a visão do amaldiçoado Tesla.

Embora muitos especialistas desdenhem a idéia, há alguns poucos que estão cautelosamente interessados. "Há alguma coisa aproveitável nela", diz o professor associado de engenharia de Caltech, Slobidan Cuk, "embora as suas aplicações práticas pareçam remotas". O próprio Golka não está fazendo grandes promessas. "Pode funcionar, e pode não funcionar", ele diz. "Se der certo, pode ser o sistema de transmissão de energia do futuro".

Seu esquema talvez não seja tão imprudente quanto pode parecer. Outros com maiores credenciais sugeriram usos ainda mais devastadores para a eletricidade transportada pelo ar. No verão passado, o físico Bernard Eastlund patenteou um sistema que poderia enviar gigantescas quantidades de energia eletromagnética a regiões selecionadas da atmosfera mais alta. Ao fazer isto, ele sustenta que se poderia realizar alguns eventos verdadeiramente espetaculares: fritar mísseis inimigos no meio de sua trajetória, romper as comunicações mundiais e até mesmo mudar padrões climatológicos globais.

Uma coisa deve ser esclarecida: Eastlund não é um louco de cabelo em pé, mas uma pessoa de fala mansa, um cientista de alta reputação com diplomas no Massachussets Institute of Technology (MIT) e em Columbia. Trabalhou durante oito anos no programa de fusão controlada da Comissão de Energia Atômica e, no começo dos anos 70, co-inventou o conceito de "chama de fusão", um mecanismo que faria um uso prático do plasma restante produzido pelos reatores de fusão para a reciclagem do lixo sólido.

Eastlund é agora presidente da produção Internacional de Tecnologias em Houston e um antigo consultor da megacorporação petrolífera ARCO. Foi um problema com o qual a ARCO se defrontou no final da década de 70 que o levou a pensar numa escala global. A companhia projetava aproveitar uma reserva de gás natural estimada em 30 trilhões de pés cúbicos (o que quer dizer um suprimento de gás de um ano para todos os Estados Unidos da América) no Talude Norte do Alaska. Por causa da longínqua localização, o gás se tornava muito dispendioso para armazenar e embarcar. Não haveria alguma maneira, a ARCO queria saber, de colocar todo aquele gás para trabalhar no próprio local? Eastlund viu quase imediatamente que se a ARCO utilizasse o potencial gerador de energia de todo aquele gás, isto poderia produzir uma imensa quantidade de energia. Mas o que fazer com toda essa energia?

Como aconteceu, ele também sabia que vários laboratórios de pesquisa estavam fazendo experimentos ricocheteando ondas de rádio de baixa energia além da ionosfera. Porque não, ele sugeriu, pegar o gás da encosta norte e convertê-lo em uma forma de energia que se poderia enviar à atmosfera mais alta? Vislumbrou a possibilidade de usar o gás para alimentar um grande gerador que, por sua vez, iria produzir energia eletromagnética como ondas de rádio. Usando uma antena gigante medindo aproximadamente 40 milhas de cada lado, as ondas poderiam ser emitidas em foco até a mais alta atmosfera. A antena, propriamente, poderia ser uma questão bem simples. "Você poderia construir uma com os dutos de irrigação", Eastlund diz.

Assim que fez seus cálculos, percebeu que a quantidade de energia com a qual estava trabalhando era enorme. Ele calculou que uma vez que as ondas atingissem a ionosfera, interagiriam poderosamente com as partículas carregadas ali confinadas. O resultado seria um fenômeno magnético conhecido como a força do espelho. Essencialmente, o que aconteceria é que uma gigantesca seção das partículas carregadas seria empurrada para cima e para fora da Terra pela sua força eletromagnética. "Você pode", diz Eastlund, "praticamente suspender a atmosfera mais alta. Você pode movê-la, fazer coisas com ela".

Que tipo de "coisas"? Por exemplo, ele diz, "você poderia bloquear ou interferir nos sistemas de comunicação do globo, incluindo as transmissões de e para satélites. Enquanto estiver bloqueando as transmissões de qualquer um outro, você pode levar as suas próprias sem interrupção".

Eastlund pensa que a técnica também tem aplicações como um sistema anti-míssil. Ao mover partes da atmosfera, pode-se criar um repuxo da atmosfera mais alta, onde não havia nada antes. Isto iria tanto aquecer o míssil quanto desviá-lo de sua trajetória. Alternativamente, também se poderia criar o que Eastlund chama de "elétrons de alta energia" na ionosfera. Como um míssil é rodeado por esses elétrons, podem penetrar e confundir o seu sistema eletrônico e fazer com que detone prematuramente.

Tudo isto se tornou de interesse para a ARCO, que apoiou a análise fora do comum de Eastlund e detém a patente para o conceito em nome de Eastlund. No momento, a companhia está investigando a viabilidade da técnica. "Suas sugestões são interessantes", diz o cientista da ARCO, Robert Hirsch, "mas há uma grande diferença entre uma idéia e seu uso prático".

Por que uma companhia petrolífera estaria interessada num sistema como este? Hirsch explica: "Se esta idéia se torna viável e desejável, então presumivelmente o governo construiria prédios e instalaria departamentos no Alaska. Se o governo fizer isso, então eles podem vir a comprar gás da ARCO." O Pentágono também expressou interesse. Hirsch informa que os militares têm se envolvido em discussões sobre a idéia de Eastlund com a ARCO e até mesmo gastaram várias centenas de milhares de dólares "avaliando-a", mas ele diz que o interesse dos militares parece ser limitado.

Apesar de reconhecer que muitas de suas aplicações têm um caráter nitidamente de guerra, Eastlund também prevê usos mais benignos para a sua idéia. Ser capaz de suspender trechos selecionados da atmosfera mais alta, por exemplo, significa que se pode refazer a rota das correntes de jato, que representa um papel muito importante no delineamento do clima global. Em um outro cenário de controle do tempo, diz Eastlund, você poderia construir "plumas de partículas atmosféricas para agir como uma lente ou engenho de foco"para a luz solar. Ao ser capaz de intensificar e controlar a luz, se poderia aquecer uma parte específica da Terra e aprender a manipular padrões de vento locais.

O que isto significa, ele diz, é que ao controlar os padrões climáticos locais, se poderia, digamos, trazer chuva à Etiópia ou alterar os padrões de tempestades do verão no Caribe. Este engenho pode até mesmo ajudar a regenerar a esgotada camada de ozônio, a remendar o buraco de ozõnio sobre a Antártida, ou a decompor os poluentes industriais da atmosfera, como o monóxido de carbono ou o óxido nítrico.

Tudo isso pode parecer bom, mas a grande questão permanece: será que a técnica vai funcionar? Até aqui a opinião está dividida, mas Richard Williams, um físico do Centro de Pesquisas David Sarnoff em Princepton, New Jersey, pensa que poderá. Entretanto, porque a atmosfera mais alta é extremamente sensível a pequenas mudánças em sua composição, Williams pensa que, ao simplesmente testar um engenho Eastlund, pode-se causar um estrago irreversível. Sua preocupação é reforçada pela possibilidade de que o mundo pode não saber nunca se e quando um engenho é testado.

Eastlund não vai discutir aplicações militares potenciais além do que é estabelecido em sua patente. Isto sugere que muitos dos testes podem ser feitos em segredo, "e você pode fazer um estrago bem grande antes que alguém saiba o que está acontecendo", diz Williams.

Nem todos os esquemas inspirados por Tesla são tão cósmicos quanto os de Golka e Eastlund. Na Califórinia, o engenheiro e inventor C. R. "Jake"Possell está usando algumas idéias do inventor para construir uma geração de engenhosos mecanismos. Um deles é tão glamoroso quanto uma... bomba. Anos atrás, quanlia uma biografia de Tesla, Possell descobriu que o inventor tinha estado interessado em alguma coisa chamada limite de resistência da camada. O fluxo de ar sobre uma superfície em movimento exerce um efeito de repuxo sobre esta superfície. Para os engenheiros aeronáuticos, o fenômeno é um aborrecimento porque reduz a velocidade das aeronaves. Mas Tesla viu que poderia utilizar convenientemente esta resistência ou repuxo. Girando um disco numa câmara vertical, Tesla percebeu que poderia deliberadamente criar este limite de resistência de camada e usá-lo para produzir uma poderosa sucção.

"Ele obteve duas patentes sobre a invenção e depois as abandonou", Possell explica. "Elas mofaram por muitos e muitos anos até que eu topei com elas". Possell decidiu reviver a idéia de Tesla. A sua "bombä de Tesla"não tem peças de sucção para escavar ou desgastar, e sua habilidade para operar sob condições de intenso calor a torna ideal para ser usada em condições de alta tensão – dentro de um reator nuclear, por exemplo. Igualmente importante, o desenho da bomba de Possell é forte o bastante para recuperar óleo cru tão viscoso que é considerado, nas palavras de Possell, "impossível de ser bombeado". Depois de experimentar com vários modelos de trabalho, ele apareceu com um que foi forte o bastante para realizqar o serviço. Há agora versões mais modernas da bomba de Tesla trabalhando nos campos de petróleo tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá.

Possell também tem estado experimentando, para atualização, uma outra invenção de Tesla: a turbina sem lâmina. Usada correntemente para fazer tudo desde a geração de eletricidade até a alimentação de engenhos a jato, as turbinas convencionais não podem ser movidas além de um certo limite por causa de suas lâminas. O aquecimento provocado pela alta velocidade as tensiona e finalmente as destrói.

Ele já tem modelos de trabalho de suas turbinas sem lânas produzindo eletricidade. Um projeto geotérmico, agora sendo construído no deserto de Nevada, usa as turbinas concebidas por Tesla, movidas a vapor desde o interior da Terra, para produzir eletricidade. Esta é uma perfeita aplicação do desenho, diz Possell, "com uma turbina comum de lâminas, até mesmo a mais leve quantidade de água é estritamente proibida", ele explica. "Isto destrói as lâminas das turbinas. Mas as nossas turbinas podem tolerar uma enorme quantidade de água".

O seu equipamento também pode produzir cerca de 60% mais cavalo de força do que o desenho de seus competidores, e porque o seu mecanismo é mais simples, a turbina é menos dispendiosa para ser construída. O resultado: eletricidade geotérmica mais barata. "No Vale Imperial, na Califórnia, uma companhia elétrica construiu uma usina elétrica geotérmica e ela custa-lhe quatro milhões de dólares o megawatt", diz Possell. Finalmente, a turbina produz uma energia mais limpa, de acordo com Possell: "nós temos poucos problemas ambientais. Os outros modelos liberam muito vapor d'água que afeta a atmosfera e, é claro, a Jane Fonda não gosta disso".

O desenho da turbina sem lâminas também poderia transformar o mundo da aviação. Hoje, os motores a jato estão limitados aos cavalos de força que podem produzir, porque os metais usados nas lâminas das turbinas podem suportar somente uma certa quantidade de tensão. Instalando este mecanismo à la Tesla significaria que nós estaríamos eliminando esta limitação. Em teoria, um pequeno motor de turbina sem lâminas, Possell diz, pode produzir três vezes mais do que o cavalo de força de um motor a jato convencional.

Agora, depois de 35 anos de pesquisa, Possell construiu um modelo de trabalho, justamente de um motor como este, com William Mood da Organização Phalanx, baseada na Califórnia. E todo o mundo, dos fabricantes de aviões aos funcionários do Departamento de Defesa, têm feito discretas indagações acerca dele. "Ele irá, declara tranquilamente Possell, "mudar completamente a indústria aeronáutica". Por mais extremadas que algumas dessas idéias pareçam, elas estão ao menos confinadas ao domínio do possível. Mas entre aqueles tentando reviver as idéias de Tesla estão alguns cujos argumentos esticam os limites da credibilidade. Um membro típico da franja radical é Tom Bearden, um tenente-coronel da reserva que trabalha como analista de armas para uma companhia aeroespacial. Durante anos, ele tem estado colecionando relatórios de explosões inexplicadas, como uma de 1976, vista no Afganistão, com "gigantescas esferas de luz em expansão "vindo do centro da União Soviética". Bearden conclama que houve uma "armamentização soviética" de uma das noções mais caras de Tesla, a qual ele próprio apelidou de "escalar eletrônico". Ao combinar e enfocar as ondas eletromagnéticas e de gravidade, ele diz, pode-se fazer armas incrivelmente potentes. Ele está seguro de que era a isso a que Nikita Kruschev estava se referindso quando anunciou, há 25 anos, que os russos possuíam uma fantástica arma que poderia destruir a vida na Terra.

Hoje, Bearden diz, os soviéticos possuem um arsenal completo de armamentos em escalar. Eles incluem um morteiro escarlar, que teria supostamente provocado uma série de grandes estrondos próximos à costa leste dos Estados Unidos no final dos anos 70, e alguma coisa que se assemelhava a um laser ultra-poderoso, o qual Bearden considera responsável pelo obscurecimento temporário de vários satélites americanos. Ele está entre um número de pessoas que sustentam que um enorme cogumelo e um domo de luz vistos sobre o Pacífico, em 1984, pelas tripulações de aviões comerciais não eram o resultado do lançamento de um foguete soviético, mas teriam sido produzidos por algo diferente - talvez um teste de armas em escalar.

As idéias de Bearden atraíram pouco interesse e ainda menos simpatia de cientistas competentes no assunto. "Sim, eu uma vez desperdicei uma noite ouvindo-o", admite o físico John Rather, um pesquisador pioneiro sobre a guerra nas estrelas. "Sua física é pura tolice, e assim são também as suas idéias sobre os russos".

Bearden admite prontamente que "muitos cientistas do governo pensam que eu sou um demente"e reconhece que nem a Agência de Segurança Nacional e muito menos o Departamento de Defesa vieram bater na sua porta. Apesar de tudo, ele ainda permanece convencido. "Eu sou apenas um cidadão preocupado tentando cumprir o seu dever", diz com desdém. "Eles foram advertidos: o que farão é com eles".

Até mesmo as suas conclamações parecem perfeitamente razoáveis comparadas com outras que os adeptos de Tesla estão tentando propagar: que Tesla tinha sido misteriosamente iniciado no mesmo sistema de energia secular responsável pelos poderes das pirâmides, ou que as idéias de Tesla sobre magnetismo podem deter a chave para a viagem no tempo.

Até mesmo aqueles que subscrevem as idéias de Tesla se sentem pouco confortáveis ao ouvir noções como estas, emitidas em nome do inventor. Até mesmo o franco Robert Golka fica assustado ao ouvir falar em viagem no tempo e poder das pirâmides. Ultimamente, entretanto, seria tolice desprezar mesmo a mais impraticável das idéias dos adeptos de Tesla. A história da ciência tem mostrado muito frequentemente que pensadores fantasticamente imaginativos, ridicularizados por seus contemporâneos, têm sido confirmados mais tarde. Até mesmo no meio de suas lutas, Tesla previa que ele teria um dia a última gargalhada sobre os seus detratores. "O presente é deles", ele disse. "O futuro, para o qual eu realmente trabalhei, é meu".