Do folclórico rural à cultura de massa urbana

 

Souza Barros. Arte, folclore e subdesenvolvimento. Sociologia. Editora Civilização Brasileira, 240 pp., Cr$36.

 

Prefaciado por Roger Bastide, Arte, folclore e subdesenvolvimento, de Souza Barros atinge, no desdobramento dos temas que se propõe, uma vasta gama de assuntos. Seu sumário compreende, assim, a análise da cultura folk e da arte, as condições predeterminantes do popular, as relações entre a farmacopéia popular e a miséria, a presença do tabu e da magia nas instituições sociais e movimentos messiânicos no Brasil, os rapports entre alienação e magia, e se encerra com uma ampla consideração sobre as zonas de choque entre o tradicional folclórico rural e a emergente cultura de massa urbana.

De início, o autor estabelece que a arte não é acessório. "Ela sempre se ligou aos meios de execução, de fazer, de realizar", afirma. Por outro lado, observa, "o confinamento da arte popular – ligada à tradição é resultado da penetração do urbano sobre o rural, embora a cultura folk sempre tenha existido em estados de relativo equilíbrio". O folclore, por sua vez, exprime segundo o autor, o sentido de resignação da cultura popular. Disto decorre que "as condições de existência do popular são mais estáveis nas sociedades tradicionais".

Mas é a partir das relações do mágico com o cotidiano que se estabelecem a arte popular e a cultura folk em uma sociedade subdesenvolvida e/ou em desenvolvimento. Neste quadro se inscrevem a farmacopéia popular e sua variante escatológica, a função curativa de certos órgãos resultante de um estado de miséria crônica, e a culinária enquanto manipulação dos elementos da terra. Nele também se inserem o tabu e a magia com suas manifestações de faz mal: "apontar as estrelas cria verruga", etc. Sua conclusão é de que a função do tabu seria então "limitar o exercício da posse ou utilização", uma vez que "os instrumentos de produção valem mais do que a terra". Arte, folclore e subdesenvolvimento termina buscando estabelecer as zonas de confronto da cultura folk, que "mesmo primitiva, funciona como defesa cultural do grupo" e "a revolução cultural que estava implicada na aparição de novos meios de reprodução e transmissão".

 

Sérvulo Siqueira

 

Resenha publicada no jornal O Globo em 28 de agosto de 1977