Os Novos Exércitos

 

Por ter resistido a dois golpes de Estado  – um deles, infelizmente bem-sucedido – o político gaúcho Leonel de Moura Brizola (1922-2004) nunca foi perdoado pelas elites conservadoras do Brasil.

 

Em razão disto, amargou mais de 15 anos de exílio em diferentes países – Uruguai, Estados Unidos e Portugal, entre outros e foi obrigado a enfrentar logo após o seu retorno todo o tipo de conspirações, desde sabotagens orquestradas pelos meios de informação a uma fraude organizada pelo oligopólio de comunicação Organizações Globo que tinha por objetivo impedir que se tornasse governador do Estado do Rio de Janeiro, eleito pelo voto popular em 1982.

 

Por sua campanha contra o magnata das comunicações no país, o chamado Cidadão Kane brasileiro Roberto Marinho, sofreu um amplo boicote dos meios de difusão brasileiros que o impediram de se eleger presidente da República em 1989 quando, após um período de 29 anos, os brasileiros puderam finalmente eleger pelo voto universal, em um processo marcado por denúncias de manipulações e suspeita de fraude, o primeiro mandatário da nação. 

 

O texto aqui publicado, colhido nos chamados tijolões, espaço que comprava em alguns jornais do país e onde encontrava a possibilidade de se exprimir livremente e sem deturpações, elabora alguns de seus conceitos sobre este exército silencioso mas altamente corrosivo: o exército dos meios de comunicação, onde a informação segura, verídica e comprovada é o que menos importa. (SAS)

 

Por Leonel Brizola, em junho de 1993

 

Se quiséssemos caracterizar estes últimos decênios da história humana, sem dúvida, deveríamos chamá-los de idade da mídia, dos meios de comunicação – a propaganda, os jornais, as revistas, as agências e os sistemas de rádio e televisão. Nestes tempos, vem sendo a mais poderosa arma de dominação dos povos, isto é: a servidão consentida, através da mente humana. Tão poderosa que foi capaz de vencer e desintegrar um gigante como a União Soviética.
 
As máquinas de comunicação, que conquistam e impõem sistemas de dominação e exploração das nações ricas sobre as pobres, são os exércitos e as armadas destes tempos. Têm o poder de criar um ambiente no qual o falso parece verdadeiro.
 
Por exemplo: o neoliberalismo – que não passa do velho conservadorismo com nova roupagem – é uma doutrina que vem das nações poderosas. É o que convém àqueles países: que as raposas (no caso, elas próprias) passem a ter toda liberdade dentro do galinheiro.
 
Outro exemplo é o dessas chamadas privatizações, que o futuro irá demonstrar que foi uma época de oligarquias impatrióticas, que promoveram a malversação e o enriquecimento ilícito, em prejuízo do patrimônio público. Tudo sob a mistificação de que privatizar seria a grande solução salvadora para nós, países pobres.
 
A verdade, entretanto, nunca morre dentro do ser humano, cuja vida, mesmo sob o mais impenetrável dos obscurantismos, é uma busca permanente e até compulsiva deste valor supremo de nossa existência. É uma questão de mais ou menos tempo.
 
A verdade acaba por prevalecer, mesmo quando um avassalador monopólio de comunicação mantém toda uma Nação nas trevas.