20 de outubro de 2010
Ademar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Maluf, José Serra
No tempo em que as campanhas eleitorais eram feitas com muitos comícios,
conta-se que o ex-governador de São Paulo Ademar de Barros – em um
desses eventos – entusiasmado com a defesa que fazia de sua própria
moralidade pública, subitamente declarou:
– No bolso desta
calça nunca entrou o dinheiro do povo!
Lembram-se os mais velhos que a multidão, estupefata diante de tão
improvável revelação, respondia:
– Calça nova,
calça nova!
Se a história não é inédita, muito menos o sentimento de incredulidade
da população diante do comportamento histriônico dos nossos políticos
quando questionados sobre sua conduta, frequentemente muito suspeitosa.
Notável também era o comportamento de Jânio da Silva Quadros, com seu
cabelo propositalmente desgrenhado, sanduíche de mortadela num bolso do
paletó e uma garrafa de cachaça no outro. Uma vez, perguntado sobre como
havia conseguido US$ 50 milhões, depositados em seu nome num banco
suíço, pediu ao repórter uma caixa de fósforos e, depois de guardá-la no
bolso, respondeu simplesmente:
– Foi assim.
Pedindo.
Paulo Salim Maluf, um político que já foi acusado do desvio de bilhões
de dólares e que acaba de ter sua eleição impugnada pela justiça
eleitoral, também se notabilizou pela sua capacidade de escapar das mais
difíceis situações e por comentários lapidares como:
– Tá bom, está
com vontade sexual, estupra mas não mata!
Ao protagonizar durante a atual campanha eleitoral episódios do mais
absoluto ridículo como, por exemplo, quando afirma que as ações da
Petrobras – que haviam caído – subiram em razão de sua melhoria nas
pesquisas, José Serra segue hoje na mesma linha de seus antecessores –
todos, por coincidência, ex-governadores de São Paulo. Suas desculpas
pouco convincentes quando confrontado diante de sucessivos exemplos de
comportamentos desleais e ignóbeis, acusações injuriosas contra sua
adversária e ligações perigosas com pessoas pouco idôneas provavelmente
acabarão por imputar-lhe a pecha de um político sem nenhuma
respeitabilidade e moral.
Na hipótese, hoje pouco provável, de que sua candidatura seja vitoriosa
– o que por si só já configuraria uma catástrofe para o Brasil – seu
governo seria como o de Fernando Collor: não teria nenhuma legitimidade
e estaria condenado a se converter num desastre, por ferir a nossa
frágil e sempre incipiente tradição democrática e por representar um
retrocesso na história das lutas sociais deste País.
Sérvulo Siqueira |