20 de junho de 2015

 A Internacional Golpista está em marcha na América Latina

Depois de tentar sem sucesso derrubar o governo de Dilma Rousseff, alguns senadores reacionários do Congresso Nacional ‒ entre eles, dois candidatos derrotados para os cargos de presidente e vice-presidente na última eleição ‒ voltam a sua atenção para a Venezuela.

Ao invés de se preocuparem com a situação carcerária da grande maioria dos quase um milhão de prisioneiros do Brasil ‒ amontoados às centenas em celas infectas ‒ ou com a famigerada prisão de Guantanamo, território cubano ocupado pelos Estados Unidos em que os prisioneiros são mantidos incomunicáveis e submetidos a torturas pelos órgãos de segurança de Tio Sam, os parlamentares brasileiros se apressaram em verificar as condição em que se encontram alguns delinquentes políticos venezuelanos, especialmente Leopoldo López e Antonio Ledezma, já acusados e condenados por vários crimes.

Num claro ato de provocação e provavelmente a serviço de seus patrões ianques, que recentemente consideraram de forma absurda que a Venezuela representa uma ameaça à segurança dos States ‒ posição que acaba de ser condenada de forma unânime na última Cúpula das Américas ‒ figuras como Aluísio Nunes Ferreira Filho, Aécio Neves, Ronaldo Caiado, José Agripino Maia e Cássio Cunha Lima se transformaram subitamente em paladinos da democracia e viajaram para o país vizinho com o intuito de criar um grande caso diplomático.

Quem são estes guardiões da legalidade que se julgam em condições de dar lições de democracia a um outro país?  O senador Aluísio Nunes Ferreira Filho foi comunista quando jovem e nesta condição teria participado de assaltos a bancos nos tempos da ditadura (1964-1985). Por ter sido considerado responsável pela morte de um policial, foi condenado pelas autoridades militares, teve a sua imagem exposta em cartazes como um inimigo do regime e foi obrigado a deixar o país, asilando-se na França em um confortável apartamento. Mais tarde, já convertido às primícias do neoliberalismo e ministro da Justiça do governo entreguista de Fernando Henrique Cardoso, conta-se que todas as informações relativas ao seu passado de comunista e assaltante de bancos teriam desaparecido dos arquivos dos órgãos de segurança do país. Recentemente, esteve ao lado do torturador capitão Jair Bolsonaro em passeatas pela derrubada do governo de Dilma Rousseff.

Já o senador Aécio Neves, conhecido em Minas Gerais como Aecinho, um notório playboy da política, construiu a sua carreira nos ombros do avô Tancredo Neves, um importante nome da política brasileira no século passado. Como governador de Minas, conduziu o estado batendo ponto na praia do Leblon, onde se caracterizou pela frequência às casas noturnas, o consumo constante de estupefacientes e eventuais espancamentos de mulheres. Seu nome tem sido mencionado como beneficiário de uma mesada no valor de R$100.000,00 ( cem mil reais) da lista das Centrais Elétricas de Furnas. Durante seu governo e o de seu preposto Antonio Anastasia, perseguiu e prendeu jornalistas de oposição.

Quanto ao senador Ronaldo Caiado, o mínimo que se pode afirmar é que dirigiu a União Democrática Ruralista (UDR), uma entidade que congrega os grandes proprietários de terras do Brasil, diretamente responsável pelo assassinato de centenas de camponeses e trabalhadores da terra em todas as regiões do Brasil.

O senador José Agripino Maia faz parte de uma oligarquia que domina a política do Rio Grande do Norte há muito tempo. Em 2010, perguntou à Dilma Rousseff o que lembrava dos tempos de cadeia e depois fez ilações com uma outra resposta da então ministra, em que ela dizia que mentiu sob tortura. Sua atitude foi interpretada por muitos como uma justificativa deste crime. Nas últimas eleições, foi coordenador da campanha de Aecinho Neves e está sob suspeita de ter recebido mais de R$1 milhão para permitir um esquema ilegal de inspeção veicular no Rio Grande do Norte. Em uma gravação de áudio divulgada recentemente pelo Ministério Público entre o empresário George Olímpio e o ex-deputado João Faustino, Agripino é acusado de ter exigido a propina em troca de silêncio sobre o caso. 

Outro membro da delegação de “direitos humanos” é o senador Cássio Cunha Lima, também um notório oligarca. Mesmo utilizando-se de uma série de liminares, foi cassado em 2009 pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba por uso do cargo de governador para fins eleitorais. Em 2010, elegeu-se senador. Apesar disso, teve o seu registro de candidatura negado pelo TRE e pelo TSE com base na Lei da Ficha Limpa, ficando impossibilitado de assumir imediatamente o cargo. Somente em 23 de março de 2011, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de não retroagir a Lei da Ficha Limpa, definindo que ela só valeria a partir das eleições municipais de 2012, assumiu a sua vaga no Senado Federal.

O que pretendem estes ínclitos personagens, estes soi-disant “varões de Plutarco”? Certamente, tencionam criar um clima de animosidade entre os dois países, pressionar o governo brasileiro para se antagonizar contra Nicolás Maduro, sabotar o MERCOSUL, organização da qual os dois países fazem parte, provavelmente para favorecer os propósitos monopolistas de implantação da ALCA, e também criar uma atmosfera propícia aos propósitos golpistas dos Estados Unidos na Venezuela e no Brasil.

Quem são os chamados presos políticos venezuelanos, que seriam visitados? O delinquente político Leopoldo López, preso há mais de um ano por conspirar contra o governo, possui de certa maneira semelhanças com Aecinho Neves. Filho da burguesia venezuelana, Leopoldo sempre viveu dos recursos obtidos pela sua família, que o transformaram numa espécie de dandy político e o levaram a posições reacionárias e violentas, como as que assumiu durante o breve golpe militar de 11 de abril de 2002.

Participação ainda mais importante no golpe de 2002 contra Chávez teve o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, outro acusado de conspirar contra o governo e sobre o qual pesam acusações de ter defendido, em um vídeo gravado, a destruição de bens públicos. Foi a polícia metropolitana de Caracas, sob o comando de Ledezma, quem matou de forma indiscriminada os manifestantes de Puente Laguno, episódio que levou à breve destituição de Chávez e em seguida ao seu consagrador retorno ao poder, após uma manifestação popular em que participaram mais de dois milhões de venezuelanos.  

Que conluio poderia resultar do encontro do que podemos considerar que temos de pior na política brasileira com a escória da política venezuelana, dois países onde a burguesia dominante sufocou por um longo tempo as mais legítimas manifestações populares? Por certo, nada de bom poderia decorrer deste enlace de facções com um tão alto retrospecto de crimes.

Felizmente, a população venezuelana ‒ muito mais politizada do que a brasileira ‒ percebeu a tempo mais este plano golpista e escorraçou os senadores fascistas e corruptos do Brasil.

Para acentuar ainda o ridículo que toda esta situação comporta, a Câmara dos Deputados do Brasil considerou que ação da população da Venezuela teria ofendido o Congresso Nacional. Ora, quem é que ofende mais o Congresso Nacional do que os próprios membros do Congresso Nacional, com sua despudorada corrupção diante das grandes empresas e quando elegem outro delinquente político como Eduardo Cunha para seu presidente?

Sabe-se hoje que dois terços dos membros do parlamento brasileiro estão comprometidos com os grandes poderes econômicos do país, que financiaram suas campanhas e a quem devem obediência. 

A grande desmoralização de um parlamento ocorre quando seus membros ‒ eleitos para defender as aspirações do povo ‒ traem aqueles que lhes depositam alguma confiança.

Sérvulo Siqueira