20 de junho de
2012
Os
objetivos e a ética
Que
notável lição de integridade política deu a deputada Luiza Erundina aos
políticos inescrupulosos do PT!
Depois de convidada para ser candidata ao cargo de vice-prefeita de São
Paulo na chapa de Fernando Haddad, a ex-ministra e ex-prefeita Luiza
Erundina descobriu que a direção do Partido dos Trabalhadores havia
articulado na surdina o apoio do notório ladrão público Paulo Maluf à
composição, em troca de uma indicação sua para o ministério de Dilma
Rousseff.
Consciente de que, enquanto sua longa militância política e social
enobrecia a postulação, o apoio de Maluf denegria os propósitos da
candidatura e manchava a sua trajetória marcada por uma longa coerência
socialista, Erundina renunciou à candidatura. O episódio, que já era em
si bastante absurdo porque os méritos da candidata |à vice é que davam
brilho à chapa, se tornou assim bastante bizarro e ameaça mergulhar
Haddad num oceano de fisiologismo muito semelhante ao de seus oponentes.
Pertencente à nova geração de políticos do PT, Haddad exerceu – com
eficiência, segundo alguns – o cargo de ministro da Educação no final do
governo Lula e no início da presidência de Dilma, onde também chamou
atenção por declarações em que justificava erros de português em livros
didáticos com argumentos crassos e populistas apoiados nos conceitos do
politicamente correto. Sua breve carreira pode sofrer agora um completo
revés se for derrotado de forma contundente em sua postulação à
prefeitura de São Paulo.
Após
vencer o império colonial francês em Dien Bien Phu, Ho Chi Minh se
recusou a participar da Conferência da Genebra que iria desmembrar a
Indochina. Ho, um dos maiores líderes revolucionários do século 20, que
se tornou maior ainda quando derrotou os Estados Unidos na Guerra do
Vietnam, argumentou que não iria discutir numa mesa de negociações
aquilo que havia sido conquistado por meio da luta e do sacrifício de
seus compatriotas. E justificou de forma categórica: –
Se eu quero os fins, a justiça e a igualdade, eu também quero os meios
compatíveis com estes fins.
Luís
Inácio da Silva, um presidente que deixou o poder com imensa
popularidade, pode acreditar que seu prestígio lhe dá o direito de agir
sem escrúpulo mas está redondamente enganado. Ele será chamado sempre à
responsabilidade para honrar a confiança que o povo lhe devota.
Críticas de políticos que nunca se pautaram pela ética como Fernando
Henrique Cardoso e José Serra certamente não lhe fazem nenhum mal. No
entanto, a postura de Luiza Erundina tem a capacidade de desvendar e
desmoralizar uma sórdida trama de bastidores em que antigos adversários
pactuam acordos com o único objetivo de se servirem do poder. As
consequências virão em muito curto prazo e podem ser bastante negativas.
Como
se vê, o PT – nascido para produzir grandes mudanças no País – se parece
cada vez aos seus piores adversários.
Sérvulo Siqueira |