11 de fevereiro de 2023
Lula tira a máscara (e vira um
teddy bear*
americano)
Este é um ritual que se repete a
cada quatro anos. O presidente de uma república situada nos trópicos se
dirige à metrópole dominante para se apresentar aos seus superiores e
receber algumas instruções destinadas ao exercício de seu mandato.
Nos últimos dias, esse ritual
acaba de se repetir. De um lado, Joseph Biden, um veterano político
norte-americano que foi guindado à condição de presidente da república
numa eleição em que foram apontados vários indícios de fraude. Já
curvado ao peso da idade, esse senhor vem apresentando inúmeros sinais
de senilidade, comunica-se com o seu país por meio de um teleprompter ou
por mensagens de ouvido que lhe são passadas por seus assessores, comete
frequentes gafes ao trocar nomes de lugares e confundir fatos
históricos, e não se caracteriza por nenhuma originalidade em suas
declarações, que expressam invariavelmente uma altiva arrogância quando
se dirige àqueles que ousam discordar de seus propósitos imperiais.
Sem embargo, muitos observadores
em seu país consideram que o poder de que dispõe para o exercício do
cargo é muito limitado e seu governo exprime apenas a vontade de grandes
grupos econômicos que o levaram ao cargo e que controlam o chamado
deep state (estado paralelo) ,
que rege de fato o establishment norte-americano.
De outra parte, como
coparticipante desse ritual, temos um ex-operário que se converteu em
ex-presidente e que foi mais tarde encarcerado e retornou ao governo de
seu país após uma eleição igualmente tumultuada em que tampouco faltaram
acusações de fraude.
Sua ascensão ao poder também não
o caracteriza como uma força preponderante, destinada a exercer o cargo
de presidente com autoridade e determinação. As circunstâncias em que
ocorreu a sua eleição, marcadas pela fragilidade das alianças que
constituiu, a sua condição de ex-presidiário acusado de atos de
corrupção, a ausência de um claro programa de governo e a vitória
eleitoral por uma margem muito estreita fazem de Luís Inácio da Silva um
dos presidentes mais fracos que já assumiu o governo no Brasil.
O cenário em que esse encontro
ocorreu – um mundo em grave crise econômica e marcado por um conflito
militar de grandes proporções – contém por si só um desafio à tomada de
decisões importantes.
Ao se dirigir a Washington, o
atual presidente brasileiro deveria estar consciente das pressões a que
seria submetido, mas certamente foi constrangido pela própria
fragilidade de sua posição a fazê-lo. Trata-se, como sabemos, do velho
cerimonial de subserviência que todos os presidentes do Brasil rendem ao
chamado Colosso do Norte, que
hoje parece abalado em sua estrutura, mas ainda retém o domínio de
seu quintal na América Latina.
Visto de outra maneira, se
poderia dizer que acaba de ocorrer mais uma cerimônia de beija-mão ao
velho estilo da onorabilitá
mafiosa em que um subordinado de nível mais baixo presta lealdade ao seu
padrinho para continuar exercendo o seu poder relativo.
O que pretenderia então o nosso
presidente quando viajou aos
States? Será que acreditava que a sua vassalagem lhe renderia um
amplo apoio político e econômico? Não lhe ocorreu por acaso que aquele a
quem se submete foi o mesmo que derrubou a presidente que escolheu para
sucedê-lo e contribuiu decisivamente para os anos de cadeia a que foi
submetido? Será que Luís Inácio da Silva, agora transformado em Lulinha,
não sabe que o juiz Sérgio Moro, que o condenou, foi treinado pelos
americanos e é nome que os gringos gostariam de colocar no poder no
Brasil?
Ou o senhor Lula acredita que
todos os favores que vem prestando aos ianques: entrega de plataforma do
pré-sal, acordos para manobras militares na Amazônia, vista grossa para
a concessão da base de Alcântara poderiam lhe render mais do que os
caraminguás de 50 milhões de dólares que Biden lhe prometeu – mas ainda
não entregou – para o Fundo da Amazônia? Não é difícil perceber que a
sinceridade americana em contribuir para uma região de importância
fundamental para o planeta é tão grande que os 50 milhões prometidos
representam uma ínfima parcela dos 100 bilhões que destinaram em apenas
um ano aos neonazistas da Ucrânia.
Vergonhosamente, para obter essa
merreca de dinheiro, Lula assinou uma declaração condenando a
Rússia pela invasão da
Ucrânia sem levar em conta as verdadeiras razões da guerra.
Deliberadamente omitiu a outra face do conflito, a guerra que está sendo
travada pelos Estados Unidos contra a Europa, plenamente confirmada
pelos eventos que cercaram a explosão do gasoduto Nord Stream,
um claro ato de sabotagem perpetrado pelos gringos
contra seus aliados. No mais, neste cenário de muita
representação e pouca vontade, restaram apenas alguns comunicados com palavras vazias como “defesa da
democracia” e “longa tradição de amizade e colaboração”, expressões que
na verdade contemplam intenções sempre dolosas para nós e que se escondem
por debaixo da mesa
de negociações.
Por acaso não teria passado pela
cabeça de Lula e seus assessores – aí incluído o senhor Celso Amorim,
tantas vezes ministro das Relações Exteriores e também da Defesa, – que,
ao se comportarem como representantes de uma
república de bananas, os
americanos não sentiriam a tentação de nos tratar como verdadeiros
traidores da pátria?
Ao frustrar a expectativa
daqueles que esperavam uma posição altiva e independente, Lula revela a
real condição de seu governo, que começa fraco, não tem um projeto para
o país e precisa desesperadamente do apoio do Tio Sam. Será que
conseguirá obter essa lealdade dos gringos, o que, sabemos, só se
consegue quando se faz imensas concessões?
Com seu gigantesco orçamento
destinado às atividades militares e de desestabilização de outros
países, os Estados Unidos já começaram a invadir o Brasil pelo sul, com
sua base militar na Tríplice Fronteira com a Argentina e o Paraguai; no
norte, na base de Alcântara, hoje totalmente entregue aos americanos;
na região de Lorena, no estado de
São Paulo, onde já há algum tempo se realizam manobras militares e em
Tabatinga, no Alto Solimões, região em que
a partir do próximo mês de novembro deste ano deverá ocorrer uma
grande manobra militar do Brasil, da Colômbia e do Peru e que contará
com a participação de forças do exército americano e da OTAN. Pela
primeira vez, os soldados gringos e da OTAN farão exercícios na selva
amazônica – aparentemente para combater o tráfico de drogas, atividade
ilícita que, como sabemos, já dominam – mas na realidade com o objetivo
de assumir o controle do terreno. Muitos setores do Exército brasileiro
vêm se opondo a essas manobras porque acreditam que com isso estaríamos
fornecendo um conhecimento privilegiado de nosso território a vários
países estrangeiros que estão situados fora da Amazônia. Será que Lula acredita que na hipótese de – ao perder o apoio popular em razão do fracasso de seu programa de governo – alguns setores nacionalistas das Forças Armadas do Brasil vierem a se insurgir contra seu projeto entreguista, a Quarta Frota dos States vai salvá-lo da derrocada?
Sérvulo Siqueira *teddy bear - ursinho de pelúcia muito apreciado pelas crianças americanas Atualizado em 14 de fevereiro de 2023
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