8 de outubro de
2010
Todas as eleições presidenciais no Brasil – e foram poucas as realmente
representativas na nossa história republicana – sempre apresentaram um
dramático caráter plebiscitário. A notória falta de participação da
cidadania leva a uma exploração do aspecto emocional das questões
políticas e a população vota como se estivesse realmente decidindo o
destino da Nação. Mas nem sempre o faz bem, deixando-se enganar muitas
vezes pelos exemplares políticos da demagogia mais barata. Foi assim com
Jânio Quadros em 1960 e com Fernando Collor em 1989. Em ambos os casos,
esses falsos profetas se serviram da bandeira da moralidade e da
regeneração dos costumes – temas dos quais estariam longe de serem os
verdadeiros paladinos, como a história futura viria comprovar – e a
sociedade brasileira pagou um alto preço por suas escolhas erradas, já
que não obtivemos a moralidade pública prometida nem os avanços sociais
propostos pelos candidatos derrotados.
As
eleições no Brasil representam o único momento em que a nossa população
é tratada com algum respeito. Isto só acontece porque esse é, de fato, o
instante em que as elites, que têm dominado este País, precisam do aval
dos mais humildes para suas ambições. Os candidatos, quais verdadeiros
atores, saem às ruas, pegam crianças no colo, beijam e abraçam o povão.
Todo este teatro dura muito pouco tempo, logo que esse processo acaba
eles retornam aos seus gabinetes onde continuam a fazer os seus acordos,
tramar novos negócios, desrespeitando a vontade de quem os elegeu. Assim
será quando este grande espetáculo das eleições de 2010 estiver
concluído. No entanto, as atuais eleições presidenciais ocorrem num
momento decisivo da história do Brasil e em meio a uma das maiores
crises econômicas mundiais desde a Recessão de 1929.
Essa
crise, tendo como ponto de origem o núcleo central da economia
capitalista mundial, os Estados Unidos da América, não afetou tão
acentuadamente – como em épocas anteriores – a nossa situação. Vivemos
um momento em que – desde o governo de Getúlio Vargas, de 1951 a 1954 –
temos a oportunidade de, progressivamente, nos desvencilhar da enorme
influência que a política ianque vem exercendo sobre a nossa sociedade.
Isto poderá ser bom de todas as formas porque poderemos encontrar o
nosso caminho, já que a nossa sociedade difere fundamentalmente da
norte-americana. Nessa ordem de coisas, uma vitória desta estranha
caterva composta por fanáticos religiosos e cripto-fascistas da TFP e da
Opus Dei, privatistas do PSDB, latifundiários da UDR, antigos comunistas
nostálgicos do estalinismo soviético, membros da elite econômica e
política brasileira entranhados nos bancos, meios de comunicação e
setores industriais atrasados, aliados à um ex-presidente que caiu em
total descrédito popular, representa uma grave ameaça ao avanço da
sociedade brasileira e às aspirações populares de um País mais justo e
mais humano.
Sérvulo Siqueira
|