8 de novembro de 2014

  

A modernidade no Brasil

 

Um mito sempre renovado: as promessas contidas na tecnologia e os sacrifícios para a sua obtenção. “As carroças que se transformarão em veículos modernos”.

A modernização da infraestrutura e a necessidade de entregá-la ao capital privado.

As dores do parto: brutais aumentos das taxas cobradas pelas empresas dos serviços públicos.

A promessa se transforma numa miragem: a anunciada boa qualidade dos serviços públicos não se concretiza.

Com o abandono do campo, a cidade se converteu no símbolo da modernidade.

A resistência da burguesia agrária impede uma verdadeira reforma da propriedade rural.

O campo é entregue ao agronegócio, onde as multinacionais têm um papel preponderante.

Produção intensiva da terra: uso de defensivos agrícolas (agrotóxicos) e emprego de sementes transgênicas.

Como um país colonizado ao longo dos séculos, o Brasil nunca pôde escolher o seu próprio destino.

O crescimento desmesurado das cidades: superpopulação urbana, violência, trânsito louco, poluição sonora e visual, lixo.

Prédios de escritórios e edifícios residenciais como os novos check-points: câmeras de vigilância, comprovação de identidade, cartões de identificação, etc.

Repressão e controle: ‒ Sorria, você está sendo filmado!

A busca do lazer como compensação pelo trabalho: shopping centers, clubes, bares, casas de espetáculo, televisão.

O álcool e as drogas: paraísos artificiais.

Dificuldade de integração à sociedade e depressão.

A técnica como refúgio: o celular, o carro, o computador e os videogames. 

A falsa satisfação do consumo: “consumir é viver, viver é consumir”. (Paulinho da Viola e a música como reflexão filosófica).

A equação se completa: a modernidade é consumir.

A defasagem entre a necessidade imperiosa de consumir e a falta de recursos para fazê-lo. “Chi non lavora non fa l’amore” (Adriano Celentano).

O conto falso da publicidade: frustração e violência.

Brasil atual: 84% da população nas cidades, imensas megalópoles, campo vazio.

O maior êxodo rural da história da humanidade em um curto período de tempo.

A expulsão do pequeno agricultor do campo pelo agronegócio.

A demonização do Movimento dos Sem Terra (MST) pelos veículos de comunicação, Rede Globo à frente.

O impasse da modernidade: apenas a técnica mais avançada ou a tecnologia a serviço de uma sociedade mais justa, com uma melhor distribuição de renda?

A inexistência de uma proposta concreta para a superação do dilema: partidos políticos conservadores e corrompidos.

Uma sociedade atônita e desorganizada.

O mais recente ardil: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

As Parcerias Público-Privadas (PPPs): maciço investimento na infraestrutura, superfaturamento e novo ciclo de privatizações.

Nova entrega do patrimônio do país: aeroportos, grandes terminais marítimos, hidrelétricas, setores de bens e serviços. 

Um futuro incerto e a perspectiva de uma bolha.

Em 2006, quando questionada sobre os efeitos devastadores dos bombardeios do Líbano pelas forças de defesa de Israel ‒ em que mais poder destrutivo foi usado do que durante toda a 2ª Guerra Mundial ‒ a secretária de estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, respondeu:

‒ O que estamos assistindo são as dores do parto do nascimento de um novo Oriente Próximo.

Por mais brutal que a afirmação possa parecer, ela se aplica igualmente ao Brasil quando se considera a nossa inserção na modernidade.  

                                                  

Sérvulo Siqueira