1º de fevereiro de 2017
(Pré)
Salve-se Quem Puder
III.
Continuando o legado de Fernando Henrique
Intoxicada pelos meios de
comunicação e sem esperança, a sociedade brasileira assiste
paralisada ao desmantelamento dos últimos estratos do Estado
Social que persistiu no país durante os quase 14 anos da era
Lula. Consumada a
revolução colorida
deflagrada pelas ações de um juiz de Curitiba, a partir de
informações fornecidas em espionagem perpetrada por órgãos
de inteligência dos Estados Unidos, viu-se que a maré
moralizadora que tomou conta da nação levou à formação de um
governo altamente corrupto que vai pouco a pouco entregando
ao capital estrangeiro os mais valiosos ativos econômicos do
país. A verdadeira casta que se apoderou
do aparelho estatal, composta por antigos políticos de
péssima extração moral, jovens promotores e juízes
excessivamente ambiciosos e de tendência claramente
autoritária, velhas e novas oligarquias rurais escravagistas
e do agronegócio, parlamentares pertencentes às bancadas da
indústria de armas e dos cultos evangélicos, além do todo
poderoso sistema financeiro e seus cães de fila – os
ignóbeis meios de comunicação comandados pela Rede Globo –
vai progressivamente impondo um controle à sociedade que faz
lembrar os sombrios anos de chumbo da ditadura militar de
1964 a 1985. Ainda que desta vez os títeres desta
opera bufa sejam
civis, espécie de
quislings de pantomima, o poder real continua a ser
exercido além-mar, nos gabinetes de Washington e Nova York
por políticos e empresários que certamente cobrarão um alto
preço pela organização e financiamento do golpe
bem-sucedido. Perplexa com o desenrolar dos
acontecimentos e sem um rumo definido – como geralmente
ocorre nestas circunstâncias – a população brasileira
sente-se naturalmente frustrada ao constatar que toda a
montanha de denúncias, ações policiais, vazamento de
depoimentos, delações premiadas, escutas ilegais e prisões
espetaculares encenadas para o jornal da noite não levou a
uma mudança substancial da sua vida, muito ao contrário
acentuou ainda mais a sua crescente pauperização. Percebe
ainda mais que a saída de um agrupamento político trouxe de
volta ao poder o pior estrato da política, que vinha sendo
sucessivamente rejeitado pelo voto popular nos últimos anos. Como os
temers, os
jucás, os
padilhas, os robertos freires
e outros que cercam esta camarilha não têm nada de bom para
oferecer à sociedade, por não disporem de projeto e estarem
comprometidos com interesses antipopulares, a casta de
golpistas entronizada no poder se defronta com um dilema que
pode levar à sua derrocada: a necessidade de continuar a
exemplarizar a população com novos corruptos para serem
enjaulados e o risco de – pela sua própria natureza
criminosa – vir a ser, ela mesma, vítima desse processo. Não por acaso, o ministro Teori
Zavascki – agora morto em um estranho acidente de avião –
não reagiu à altura da autoridade de que dispunha diante da
escuta flagrantemente ilegal de conversas telefônicas da
Presidente da República e somente defenestrou Eduardo Cunha
após este ter presidido a autorização para o processo de
impeachment de
Dilma Rousseff . Como o objetivo final da chamada
operação Lava Jato
– que muitos dizem constituir na verdade a sua razão de ser
– é a prisão do ex-presidente da República Luís Inácio da
Silva e pode-se dizer com certeza que este é um objetivo de
alto risco político, pelas repercussões nacionais e
internacionais que poderá gerar, tornou-se necessário
oferecer aos espectadores dos noticiários de televisão, já
que é este o cenário real do processo golpista, novas
cabeças para a degola no intuito de aplacar a ânsia por
justiça e moralidade que foi instigada na população. Após a
trombeteada prisão de Cunha, sucederam-se assim as de
Palocci, Mantega, Sérgio Cabral e, mais recentemente, Eike
Batista, além dos outros de menor calibre. Muitos ainda
tombarão no caminho mas o grupo dominante cuida para que o
seu círculo mais próximo não seja atingido. No entanto, o objetivo máximo dos
golpistas, o Santo Graal dos seus algozes do PSDB – que
foram sucessivamente derrotados por Lula em quatro eleições
nacionais – ainda não foi alcançado com a prisão do
ex-presidente, o que certamente o impediria de se candidatar
em 2018 e os salvaria assim de uma nova e constrangedora
derrota.
Enquanto isto não acontece e num processo semelhante ao
da revolução francesa, que muitos historiadores
consideram não ter sido uma verdadeira revolução já que
em muito pouco tempo ocorreu a Restauração da Monarquia,
os verdugos de então expunham as cabeças dos derrotados
à massa para saciar a sua ânsia de desforra e vingança.
Sergio Moro, Michel Temer, toda a
entourage do
Supremo Tribunal Federal, os mais de 400 deputados
envolvidos em processo na Câmara Federal assim como
outros tantos senadores – inclusive o candidato
derrotado em 2014
Aecim Neves e seu aliado (?), o atual ministro José
Serrote – buscam iludir as aspirações populares com espetáculos
encenados para o
Jornal Nacional enquanto exercem o mister
para o qual foram designados: destruir as
empresas nacionais de engenharia, impedir o
desenvolvimento do programa atômico brasileiro,
aniquilar o banco de fomento do BNDES, retirar
conquistas sociais como a aposentadoria e a CLT,
privatizar a educação, a saúde e outros serviços
públicos e, finalmente, entregar às grandes petrolíferas
as reservas submarinas do pré-sal.
Sérvulo Siqueira *Expressão cunhada por Reinaldo Cotia Braga |