27 de janeiro de 2013
 

 

Um cavalo de Troia europeu em Santiago

 

O que terão vindo fazer na Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) os sinistros Angela Merkel e Mariano Rajoy? Dar conselhos de como dirigir proveitosamente as economias de seus países, proporcionando aos cidadãos bem-estar e dignidade de vida?

Certamente que não, já o que estes estranhos personagens políticos fazem é exatamente o contrário, ou seja, dedicam-se no momento a cortar direitos alienáveis adquiridos como a assistência médica, a educação pública, a habitação, a aposentadoria, o amparo aos mais velhos, etc.

Sobre questões tão relevantes como estas, esses notórios neoliberais conservadores não têm muito pouco a dizer já que acabaram de abolir em seus países – e a primeira-ministra Angela Merkel já impôs os mesmos procedimentos na Europa a outros países que devem à Alemanha – conquistas sociais que somente foram alcançadas depois de séculos de intensas lutas nos sindicatos, nas associações de classe, nos parlamentos e nas ruas.

E, como explicar, ainda, a participação da esquisitíssima nazi-sionista inglesa Catherine Ashton como co-presidente de uma reunião – conduzida a portas fechadas – de povos tão alheios a sua cultura como os que compõem a Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos?

Por outro lado, que autoridade moral tem Mariano Rajoy para exigir algum respeito aos acordos quando foi exatamente a “sua” Repsol a primeira a deixar de cumpri-los, fechando poços de exploração de petróleo, obrigando a Argentina a importar combustível e poluindo o meio ambiente com perfurações criminosas?

Criada sob inspiração do presidente da Venezuela Hugo Chávez em dezembro de 2010, no México, a CELAC pretende se tornar uma alternativa à desmoralizada Organização dos Estados Americanos (OEA), que se tornou um braço da política imperialista dos Estados Unidos no hemisfério.

Como não poderia deixar de ser, não faltaram os toques grotescos de ignorância neocolonialista que costumam cercar estas reuniões. Em seu caminho rumo a Santiago, o presidente do governo da Espanha fez uma escala em Lima, onde teve a oportunidade enviar uma saudação ao “povo cubano”. A grosseria de Rajoy não passou despercebida por alguns, que também não deixaram de notar o cinismo do galego e do presidente do Peru, Ollanta Humala, quer fingiram que nada havia acontecido.

Espera-se agora que a tedesca Angela Merkel também possa nos brindar com algum lampejo de sua rara cultura, semelhante ao que protaganizou há pouco tempo, quando não soube localizar a capital do país no mapa e ainda por cima confundiu Berlim com Moscou.

A verdade é que os europeus, que durante séculos nos iludiram apresentando-se como os faróis e os luminares da civilização enquanto perpetravam os mais bárbaros genocídios da história da humanidade contra indígenas, negros e asiáticos, hoje não têm nada mais a nos ensinar.

Contaminados por uma crise abissal, corrompidos pelo poder das grandes corporações e dos conglomerados bancários, dirigidos por políticos sem nenhum escrúpulo como Silvio Berlusconi, Nicolas Sarkozy, José Maria Aznar, Durão Barroso, Angela Merkel – que pelas suas políticas muito pouco éticas, é apontada como a criadora do “merkialevismo” – os países da Europa caminham inexoravelmente para a decadência, já prenunciada na desintegração da ficção jurídica que criaram e que irá se tornar, como anunciava há algum tempo o cientista político Robert Kurz, uma “ruína novinha em folha”.

Amparado pela força militar dos Estados Unidos, o continente recorre no momento às velhas guerras coloniais de conquista e pilhagem dos recursos naturais de países como a Líbia, a Síria e o Mali, entre muitos outros, o que mostra que nunca se desligou verdadeiramente dos seus propósitos destrutivos.

Hoje, quando a América Latina e o Caribe buscam retomar a senda do desenvolvimento e da dignidade de seus povos, a presença de soturnos personagens como Merkel e Rajoy não deve deixar de nos inspirar cuidados e atenção, pela carga negativa que estes personagens representam e pelo espectro de dor e sofrimento que trazem para a nossa história.

  

Sérvulo Siqueira