6 de março de
2014
Hugo
Chávez
Um
ano após o seu desaparecimento físico, a contínua demonização dos meios
de comunicação corporativos − convertidos hoje em uma verdadeira arma de
guerra sob o comando dos Estados Unidos − não conseguiu apagar a
verdadeira imagem de um líder extraordinário que Hugo Chávez continua
representando, tanto no aspecto político pela influência que exerceu na
América Latina quanto em sua condição de ser humano cordial, sensível e
afetuoso.
O
documentário Mi amigo Hugo de Oliver Stone − cuja estreia mundial se deu
ontem nos canais de televisão da Internet Telesur e RT − celebra as
relações do diretor com o ex-presidente venezuelano e enfatiza as suas
inegáveis qualidades humanas, que ao longo do tempo têm sido
consideradas como um verdadeiro apanágio da latinidade americana.
Combinadas com uma infatigável disposição para defender os direitos dos
menos favorecidos, elas moldaram em Hugo Rafael Chávez Frias a têmpera
apropriada para transformá-lo no mais importante líder político da
América Latina das últimas décadas e impulsionaram uma mudança
significativa na nossa região que levaram ao fortalecimento dos governos
nacionais em sua luta para conter a constante interferência do poder
imperial dos Estados Unidos.
Durante os 14 anos em que exerceu o poder na Venezuela Chávez resistiu a
persistentes tentativas de desestabilização de seu governo, chegando até
a recuperar a presidência depois de um golpe de Estado em 2002, depois
que gigantescas manifestações populares exigiram dos golpistas,
liderados pelos Estados Unidos e a Espanha, o seu retorno de uma pequena
ilha onde havia sido confinado e mantido incomunicável.
Enfatizando sempre o lado humano de sua personalidade, o filme traça a
trajetória do Comandante Chávez desde a entrada na escola militar até o
momento em que decide liderar um movimento contra as políticas altamente
impopulares do governo entreguista de Carlos Andrés Pérez, fato que alça
seu nome a um nível de popularidade incomum, especialmente em um país
onde os militares sempre foram vistos pela população como defensores de
um sistema econômico injusto e mantenedores de um regime opressivo.
Sua
eleição em 1998 consolida, ao lado de Néstor Kirchner, eleito em 2003 na
Argentina, a emergência de uma nova liderança na América Latina e vai
impulsionar o surgimento de uma geração de administradores públicos mais
voltados para os interesses de seus povos e que − simultaneamente com a
profunda decadência da classe política na Europa e nos Estados Unidos −
vai estabelecer pela primeira vez na história uma significativa
diferença em favor da nossa região.
Este
fato despertou nos Estados Unidos o renascimento de seu apetite pelos
mais variados tipos de derrubada de governos constitucionais, prática
que voltou a ocorrer em nosso continente desde a tentativa de 2002 na
Venezuela que, embora fracassada, levou a outros golpes, desta vez
bem-sucedidos como os ocorridos em Honduras, em 2009, e no Paraguai, em
2012, que apresentaram características diversas da maioria das
quarteladas de inspiração norte-americana.
Muitos analistas consideram que − não tendo obtido sucesso em demolir
pela via eleitoral as novas lideranças latino-americanas − Washington
pode ter recorrido a um sinistro expediente de contaminá-las com a
doença do câncer, tática que havia sido objeto de investigação por uma
comissão parlamentar de inquérito no Senado americano, dirigida pelo
senador Frank Church em 1975.
Desgraçadamente, entre os inúmeros líderes políticos da América Latina
que contraíram doenças na última década − Fernando Lugo, Luiz Inácio da
Silva, Dilma Rousseff, Cristina Kirchner, Juan Manuel Santos − somente
Chávez tombou como vítima fatal do câncer. Juntamente com Néstor
Kirchner, ex-presidente da Argentina e responsável pela recuperação de
seu país depois da devastadora administração neoliberal de Fernando de
la Rúa, Hugo Chávez representou a mais trágica perda de liderança em
nossa região nos últimos anos.
No
entanto, o carisma de sua personalidade, parece sobreviver ao seu
desaparecimento físico e já vem influenciando novos políticos não apenas
em nosso continente − onde dois candidatos bolivarianos devem ser
eleitos proximamente na Costa Rica e em El Salvador − como também na
França, Espanha e Grécia. Por outro lado, o número de homenagens de que
foi objeto em todo o mundo prova que sua ação não se restringiu apenas à
America Latina, como provam as mais de duas dezenas de estátuas de Hugo
Chávez erigidas na Rússia, na Espanha, na Bielorrússia, na Bolívia, na
Argentina, etc.
Nos
tempos em que vivemos, onde se assiste a um dos momentos mais perversos
da ação do capitalismo sobre o ser humano, a figura de Hugo Chávez deixa
um legado de coragem em sua resistência contra o imperialismo e o
colonialismo e de fraternidade por sua inquestionável relação com o ser
humano mais oprimido, tornando-se um modelo para as futuras gerações que
verão nele alguém que levou a sua coerência até as últimas instâncias,
vivendo e morrendo por uma causa em que acreditava.
Os
muitos milhões de amigos e partidários que aqui ficaram − entre os quais
se inclui certamente o cineasta norte-americano Oliver Stone, diretor de
Mi amigo Hugo, − rendem neste momento tributo à sua memória e pedem a
proteção de seu espírito para as novas batalhas que virão, sem esquecer
as suas palavras:
–
Hasta la victoria... siempre!
Sérvulo Siqueira
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