6 de agosto de 2017

 

Bloqueando as ruas e as redes

 

A direita fascista latino-americana − assim como ocorreu no Brasil em 2014 − não costuma aceitar as suas próprias derrotas.

Depois de tentar impedir as eleições para a Assembleia Constituinte na Venezuela por meio de assassinatos, bloqueios de ruas e avenidas, queima de urnas e ataques a órgãos públicos e forças de segurança, a oposição inventa agora uma fraude no processo de votação do país, reputado pela Fundação Carter – uma organização que se dedica a acompanhar eleições em todo o planeta – como um dos mais aperfeiçoados e considerado de forma quase unânime um dos melhores do mundo.

Como se sabe o sistema de votação na Venezuela compreende também uma prova impressa do voto, que é recebida pelo eleitor imediatamente após o ato e atesta a preferência que acabou de fazer, o que infelizmente não ocorre no Brasil apesar das muitas tentativas realizadas para a sua implementação.

Três dias após as eleições e logo após a divulgação dos resultados – que tardaram um pouco por causa dos hackers da oposição que, proclamando o slogan “enquanto alguns fecham as ruas, nós fechamos as redes”, criaram obstáculos ao processo – a empresa Smartmatic, que forneceu as máquinas de votação, informou acreditar ter o Conselho Nacional Eleitoral “acrescentado” aproximadamente um milhão de votos aos mais de oito milhões de eleitores que registraram sua preferência nas urnas.

Em seguida, os corruptos meios de comunicação – e lamentavelmente eles não existem apenas no Brasil, na verdade estão espalhados por todo o mundo – tomaram uma simples denúncia sem comprovação pelo seu valor de face e se encarregaram de exacerbar a “suspensão política” do país andino do Mercado Comum do Sul, conhecido como Mercosul. O episódio não é novo e já ocorreu antes mas, agora, sob a presidência do representante do governo golpista do Brasil – um militante soi-disant  de esquerda que nos anos 1960 e 70 assaltava bancos visando arrecadar fundos para a causa e hoje se dedica a defender a legalidade no exterior enquanto participa de um governo ilegal no país − vem reforçado pela notória rejeição da quadrilha no poder no Brasil à qualquer iniciativa relacionada a eleições.

Em todos os seus aspectos, o episódio revela o desespero dos fascistas do subcontinente frente a mais uma derrota que acabam de sofrer diante das forças populares da Venezuela e à sua crescente perda de prestígio em razão da violência com que vêm se conduzindo nos últimos tempos.

Por outro lado, chega a ser grotesca a denúncia de fraude uma vez que a Smartmatic não se mostra capaz de responder à pergunta que lhe faz o Conselho Nacional Eleitoral (CNE): de que elementos dispõe a empresa para comprovar a sua acusação se não tem nenhuma participação no processo de apuração, limitando-se apenas a vender as máquinas (hardware) e o sistema operacional (software) que possibilitam o seu funcionamento?

Enquanto procura um fundamento para sua denúncia, emerge também uma entrevista dada pelo diretor-executivo da companhia, Antonio Mugica, em que o executivo afirma peremptoriamente que as máquinas da Smarmatic são praticamente imunes a qualquer falsificação dos seus resultados.

Ao mesmo tempo, uma investigação sobre a Smartmatic revela que a empresa é uma propriedade de Mark Malloch-Brown, um britânico que foi vice-presidente do Quantum Fund, o principal fundo de Soros, e diretor do Open Society Institute e do International Crisis Group. Segundo se sabe, seus vínculos com Soros remontam a 1993. Considerado o mago financiador de todas as revoluções coloridas que já existiram, inclusive da recentemente ocorrida no Brasil e que levou à deposição de um governo legítimo, George Soros é um magnata de origem húngara e supostamente o patrocinador da candidatura de Marina Silva à Presidência da República em 2014.

A Smartmatic, por outro lado, se é que pretende zelar pela confiabilidade da tecnologia dos produtos que fabrica não demonstra estar preocupada com a credibilidade contábil da companhia. Empresa registrada na Holanda e domiciliada em Barbados, um conhecido paraíso fiscal, a Smartmatic encontra-se no momento sob um embargo preventivo de bens decretado pela justiça venezuelana, acusada por um funcionário de estar sofrendo um processo de descapitalização. Também nos Estados Unidos a companhia enfrenta problemas com a justiça em Chicago por um fato ocorrido em 2006.

Alguns meios de informação da Venezuela, apuraram que logo após a denúncia de fraude, apresentada na última quarta-feira, 20 executivos da Smartmatic teriam abandonado a Venezuela, certamente para não serem obrigados a expor as razões que levaram a empresa e fazer de forma tão precipitada esta afirmação. A pergunta que não quer calar e que certamente será feita à empresa é a seguinte: como é que depois de ter alardeado por tanto tempo a absoluta segurança e confiabilidade de suas máquinas, a empresa pode afirmar sem qualquer evidência que seu software foi alterado e que os resultados de uma eleição com mais de oito milhões de participantes foram fraudados?

Ademais, como o processo de votação na Venezuela exige a impressão digital de cada um dos eleitores, pergunta-se:

− Como seria possível introduzir um milhão de impressões digitais falsas se o conhecimento científico adquirido pelo homem até hoje impede a falsificação de uma única impressão digital? O que não representaria então, neste caso, a produção de um milhão de falsas digitais de uma só vez?

Enquanto isto, no Brasil uma parte da esquerda – inclusive setores ligados ao Partido dos Trabalhadores – propõe que Maduro faça um acordo com a oposição do país, repetindo assim a mesma estratégia que adotaram no país nos quase 14 anos em que estiveram no poder quando fizeram pactos com Michel Temer, Paulo Maluf, etc. Alguém se lembra dos motivos que levaram Lula a escolher o deputado menos votado do PMDB à Câmara de Deputados para ser o companheiro de chapa de Dilma Rousseff?   

  

Sérvulo Siqueira